A Diferença Entre Transferência Positiva e Negativa na Psicanálise
E o Que é a Contratransferência?
O Que é Transferência?
A transferência pode ser definida por comportamentos, sentimentos, emoções ou desejos do indivíduo em relação ao analista, que originalmente dirigiam-se a outro objeto.
Freud relaciona a transferência como um desejo infantil do analisando, que tenta suprir na figura do analista uma falta baseada em sentimentos originalmente dirigido aos pais ou figuras parentais (ambos pai e/ou mãe). Tais sentimentos seriam inconscientes, sendo a transferência desses para o analista uma neurose que busca a gratificação de recalques da infância (sentimentos, emoções ou desejos “escondidos”).
Esse vínculo afetivo é automático e atual (que se dá no momento do agora), sendo de grande intensidade. O estabelecimento do vínculo pode não ser solucionável e independe do contexto. O analista não tem qualquer controle sobre o estabelecimento do vínculo de transferência por parte do analisando, que também não o faz conscientemente ou por vontade própria.
“Na origem, a transferência não passa para Freud, pelo menos no plano teórico, de um caso particular de deslocamento do afeto de uma representação para outra. Se a representação do analista é escolhida de forma privilegiada, é porque constitui uma espécie de resto diurno sempre à disposição do sujeito, e também porque este tipo de transferência favorece a resistência, pois a confissão do desejo recalcado se torna especialmente difícil se tem de ser feita à pessoa visada por ele.”
– Vocabulário de Psicanálise
Para além de Freud, o conceito e noção de transferência assume outros contextos e múltiplas interpretações, que vão passar a ver a transferência como não originando os comportamentos, sentimentos, emoções ou desejos do indivíduo em relação ao analista somente diretamente da relação com os pais, mas podendo ser originado dos sentimentos em relação a outro indivíduo, objeto ou situação.
Transferência Positiva
A transferência é considerada positiva se permanece em graus moderados, exprimindo sentimentos afetuosos, amigáveis, de carinho, amor e ternos. Tais sentimentos são conscientes por parte do analisando, mas não a qualidade de transferência. A transferência positiva não é uma manifestação de resistência.
O analista não deve tomar atitudes repressivas quanto aos sentimentos exprimidos pelo analisando. Para Freud, tal conduta não seria aplicável no processo terapêutico, podendo causar danos ao indivíduo. Do mesmo modo, não deve consentir.
Para Freud, a transferência pode ser uma ferramenta para tratamento de questões terapêuticas, pois ao dirigir tais sentimentos ao analista, o analisando está trazendo à tona cargas emocionais recalcadas (escondidas) no seu inconsciente. Portanto, o Psicanalista tem em suas mãos uma ferramenta de chegar ao suprimido pelo indivíduo, podendo resolver essas questões.
Se por acaso as manifestações de transferência são repreendidas no contexto terapêutico as questões que ali se expõem para serem trabalhadas serão perdidas, pois poderão ser novamente recalcadas.
“A transferência destinada a ser o máximo obstáculo para a Psicanálise, se converte em seu auxiliar mais poderoso, quando se consegue detectar em cada caso e traduzi-lo para o enfermo.”
- Horacio Etchegoyen
Transferência Negativa
Para Freud, a transferência pode acabar se transformando em resistência e na maior das oposições ao tratamento e dificuldades no processo terapêutico. Em um quadro de transferência negativa, o analisando apresentará sentimentos de raiva, desconfiança, descredibilidade, hostilidade e até mesmo agressividade direcionados à figura do analista. A transferência negativa é considerada uma manifestação de resistência.
É possível que uma transferência inicialmente positiva poderá vir a se converter em transferência negativa, tornando-se hostil. Isso poderá se dar pela falta de reciprocidade do analista quanto aos sentimentos do analisando tanto quanto por alguma conduta repressiva que o analista possa ter tomado, entre outros motivos.
A transferência irá alçar níveis patológicos ao apresentar sintomas acentuados e exagerados, causando sofrimento clinicamente significativo ao analisando, impossibilitando o bom desenvolvimento do tratamento terapêutico. Será chamada de neurose de transferência.
Tanto a transferência positiva quanto a negativa devem ser endereçadas, investigadas e tratadas pelo analista durante o processo terapêutico.
O Que É Contratransferência?
Contratransferência é a resposta do analista aos estímulos dirigidos a ele pelo analisando no quadro de transferência. Seria uma influência no inconsciente do terapeuta pelos comportamentos, sentimentos, emoções ou desejos exprimidos pelo analisando. A contratransferência é um fenômeno negativo no contexto terapêutico.
Caso o analista identifique em si o fenômeno de contratransferência, isto é, a reciprocidade de quaisquer dos sentimentos exprimidos pelo analisando, deverá, como conduta ética, exercitar a autoanálise ou buscar acompanhamento analítico de outro profissional.
E m casos de transferência, é primordial que o analista seja crítico de si mesmo, sabendo identificar qualquer sentimento direcionado ao analisando que possa provir apenas e diretamente das emoções expressadas pelo indivíduo. Em pleno exercício e cumprimento do Código de Ética Terapêutico, o Psicanalista deverá lembrar-se de sua humanidade e que, assim como seu analisando, está sujeito a respostas causadas pelo seu inconsciente a partir dos estímulos externos, estando incluída neles a relação terapêutica.
“A transferência existe fora e dentro da análise, a única diferença é que nesta ela é detectada continuamente.”
- Horacio Etchegoyen
Texto revisado. Originalmente escrito em 2020, durante a formação em Psicanálise Clínica.