A diferença entre medo, fobia e ansiedade

Amanda Aragão
5 min readFeb 12, 2021

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Foto: Tim Trad

Na perspectiva da evolução humana, o medo e a ansiedade nos eram ferramentas úteis. Sendo uma reação biológica instintiva do ser humano, essas emoções auxiliavam nossos ancestrais a se protegerem e fugirem do perigo. No entanto, hoje, embora certa quantidade de medo ou ansiedade também possa nos proteger — não só de predadores contemporâneos, mas de outras situações da vida — tais sentimentos em excesso podem causar desde desconfortos cotidianos a sérios transtornos emocionais e psicológicos, tornando-os patológicos, como no caso das fobias.

Medo

O medo é um sentimento comum e familiar a todos os seres humanos. Primitivo e instintivo, existe para nos proteger de riscos. É um importante e automático mecanismo de proteção. Podemos nos defrontar com o medo ao nos depararmos com situações novas ou desconhecidas nas nossas experiências de vida; assim podemos até entendê-lo, em contexto social ocidental atual, como preocupação ou receio. O medo é uma reação súbita e involuntária frente a uma situação inesperada. Sendo uma emoção normal e transitória, por si só e em níveis saudáveis, não provoca efeitos danosos ao indivíduo.

Fobia

A fobia é um medo exagerado e irracional, capaz de interferir no cotidiano do indivíduo. Como um de seus sintomas, está presente uma angústia extrema, intensa e desproporcional, causando danos ao indivíduo, com consequências psicológicas e sociais.

Foto: Mathew Schwartz

Um quadro de fobia é persistente e impeditivo. Ou seja, o indivíduo evita situações, não se arriscando à circunstâncias novas ou ao desconhecido, não enfrentando ocasiões que, em sua percepção, poderia haver mesmo que remota chance de se deparar com o objeto de sua fobia.

Em acordo com o DSM-V (Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais), são exemplos de fobias:

  • Fobias específicas — Medo ou ansiedade acentuados acerca de um objeto ou situação (p. ex., voar, alturas, animais, tomar uma injeção, ver sangue).
  • Fobia social — Medo ou ansiedade acentuados acerca de uma ou mais situações sociais em que o indivíduo é exposto a possível avaliação por outras pessoas. Exemplos incluem interações sociais (p. ex., manter uma conversa, encontrar pessoas que não são familiares), ser observado (p. ex., comendo ou bebendo) e situações de desempenho diante de outros (p. ex., proferir palestras). O indivíduo teme agir de forma a demonstrar sintomas de ansiedade que serão avaliados negativamente (i.e., será humilhante ou constrangedor; provocará a rejeição ou ofenderá a outros). As situações sociais quase sempre provocam medo ou ansiedade.
  • Agorafobia — Medo ou ansiedade marcantes acerca de duas (ou mais) das cinco situações seguintes: Uso de transporte público (p. ex., automóveis, ônibus, trens, navios, aviões); Permanecer em espaços abertos (p. ex., áreas de estacionamentos, mercados, pontes); Permanecer em locais fechados (p. ex., lojas, teatros, cinemas); Permanecer em uma fila ou ficar em meio a uma multidão; Sair de casa sozinho.

Em muitos casos, a pessoa que apresenta um quadro de fobia sabe que o nível elevado do medo é irracional, mas é incapaz de evitá-lo ou controlá-lo. O indivíduo acredita que há um perigo imperativo e real. Quando obrigado e levado ao confronto, é dominado por um sentimento exagerado, causador de sofrimento e angústia clinicamente significativos.

As fobias são identificadas como parte dos Transtornos de Ansiedade.

Ansiedade

Ansiedade pode ser definida, neste contexto, como o que sentimos em decorrência do medo ou de uma fobia. Diferente do medo, que é uma reação, a ansiedade ocorre como uma antecipação sob a hipótese de algo que possa vir a ocorrer. A ansiedade é sempre limitante, mas pode não chegar a ser impeditiva em casos mais brandos.

Alguns dos sintomas de ansiedade podem ser: insônia, falta de ar ou respiração acelerada, cansaço físico, exaustão mental, náuseas, suar frio, mãos geladas, bruxismo (serrar a mandíbula ou apertar os dentes, podendo acontecer de maneira inconsciente ou durante o sono), alterações de apetite e/ou do sono, tensão muscular, preocupar-se profunda e excessivamente, inquietação física e/ou mental constante, dores de cabeça, perfeccionismo em níveis exagerados, pensamentos obsessivos ou compulsivos sobre determinada questão (não conseguir “desligar” a mente ou focar a atenção em outro objeto).

O DSM-V estabelece que:

“Medo é a resposta emocional a ameaça iminente real ou percebida, enquanto ansiedade é a antecipação de ameaça futura.[…] Os transtornos de ansiedade se diferenciam do medo ou da ansiedade adaptativos por serem excessivos ou persistirem além de períodos apropriados ao nível de desenvolvimento. Eles diferem do medo ou da ansiedade provisórios, com frequência induzidos por estresse, por serem persistentes. […] os indivíduos com transtornos de ansiedade em geral superestimam as situações que temem ou evitam. […] acarreta consequências significativas em contextos de conquistas acadêmicas ou profissionais ou interfere em outros aspectos na comunicação social normal.”
- DSM-V

Foto: Christopher Ott

Além das fobias, estados exacerbados de ansiedade podem ser sinais de outras disfunções, como o Transtorno da Ansiedade Generalizada, Síndrome do Pânico e Transtorno do Estresse Pós-Traumático, entre outros.

O diagnóstico de um transtorno de ansiedade só pode ser feito por um profissional qualificado e seu tratamento pode incluir, além da terapia, medicação e acompanhamento de um médico psiquiatra.

O medo é um instinto de sobrevivência e pode ser benéfico, enquanto a fobia é o medo e a ansiedade elevados a níveis desproporcionais e irracionais, causando prejuízos ao indivíduo, sua vida e relações sociais.

A análise como processo terapêutico é pedra angular no tratamento dos transtornos de ansiedade, podendo proporcionar o equilíbrio emocional adequado para o cuidado de tais quadros, desenvolvendo maneiras de lidar e amenizar os sintomas, além de estratégias de enfrentamento. Entendendo os fatores originários dos medos, fobias ou ansiedade do indivíduo, a terapia é capaz de prover métodos efetivos para a melhora da saúde mental, além da superação do quadro pelo paciente; desta maneira, não sendo responsável somente por sua melhora emocional, mas também pela evolução de sua qualidade de vida.

Texto revisado. Originalmente escrito em 2020, durante a formação em Psicanálise Clínica.

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