Qual é o tempo de duração ideal de uma terapia?

Quais são a função e objetivo da terapia, quando ela funciona e quando não funciona e quais os prazos de tratamento

Amanda Aragão
4 min readMar 28, 2021
Foto: Kari Shea

Função e Objetivo da Terapia

A Psicanálise e psicoterapia têm aplicações em diferentes áreas, sejam elas no campo das disfunções psíquicas ou emocionais, como transtornos de ansiedade, psicose, entre outros, também se aplicando a todas as áreas da vida do indivíduo, como relações interpessoais, conflitos internos, desenvolvimento emocional e melhora de qualidade de vida, apresentando resultados claros, duradouros e incontestáveis.

Na Psicanálise, o analista tem a função de ser mediador entre o indivíduo e seu próprio eu subjetivo ou inconsciente. O analista, portador qualificado de técnicas e ferramentas para tal, deverá investigar e “traduzir” — a partir dos relatos, comportamento, fantasias, sentimentos e impulsos do analisando— as relações entre seu eu consciente e inconsciente. Esse processo e intervenção deverá ser feito de modo que seja de fácil entendimento para o indivíduo, sendo um meio para que o indivíduo compreenda e organize de maneira consciente suas questões terapêuticas, assim podendo trabalhar emocional e psiquicamente em suas resoluções.

Como processo terapêutico, existem diferentes linhas de abordagem, sendo algumas delas:

  • Psicanálise
  • Psicologia
  • Gestalt-Terapia
  • Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC)
  • Psicoterapia Analítica
  • Psicodrama

Dentro da Psicanálise, o analista poderá escolher diferentes abordagens, como:

  • Psicanálise Freudiana — se baseia nas teorias e ensinamentos de Sigmund Freud;
  • Lacaniana — se baseia nas teorias e ensinamentos de Jacques Lacan;
  • Junguiana — se baseia nas teorias e ensinamentos de Carl Gustav Jung;
  • Psicanálise Integrativa — é a integração das teorias psicanalíticas no processo terapêutico, a partir do subjetivo do analisando como foco; diferenciando-se das anteriores, nas quais o tratamento se dá a partir da formação específica do analista.

O Vínculo Terapêutico

O alicerce de uma terapia efetiva está na relação entre analista e analisando. Para que essa relação seja bem-sucedida, o psicanalista deve estabelecer em cada sessão da análise um contexto no qual o indivíduo se sinta seguro e confortável. É importante que o analista seja neutro, para que o analisando jamais se sinta julgado ou criticado. Ao longo das sessões, é formado o que chamamos de vínculo terapêutico, que nada mais é do que a expressão da conexão e confiança entre analista e analisando, proporcionando o ambiente favorável para a eficácia do tratamento terapêutico.

Por Que a Terapia Funciona?

Processo Psicanalítico

Processo psicanalítico é o desenvolvimento da terapia. São as sessões de terapia em conjunto com os métodos e ferramentas utilizados no tratamento psicanalítico como um todo.

Além das sessões psicanalíticas tradicionais, há outras técnicas que podem ser utilizadas no processo terapêutico. São alguns exemplos:

  • Arteterapia
  • Musicoterapia
  • Escrita terapêutica

Tais técnicas podem ser sugeridas pelo terapeuta a partir da subjetividade, tendências de interesse e inclinações do analisando. Isto é, não faria sentido a sugestão de algum método de escrita terapêutica a um analisando que não se sente atraído pela prática da escrita.

Resposta Terapêutica

Muito embora neutra e imparcial, o analista não está em uma posição nula frente ao seu analisando. O terapeuta está observando os fenômenos e elementos subjetivos no indivíduo e em seus relatos, assim como em seu comportamento e linguagem não verbal. Em combinação dos métodos de associação livre e da atenção flutuante, ao manter-se neutro e contendo possíveis reações quanto às manifestações do indivíduo, o analista apresentará sua resposta terapêutica ao analisando a partir de um distanciamento tanto do analisando quanto de si mesmo.

A escuta do analista é fundamental. Na psicanálise, a escuta não significa “ficar quieto e ouvir”. Além de ser um momento de observação e análise do terapeuta, ela deve ser respeitosa, e dar também espaço e tempo para que o analisando ouça a si, possibilitando o autodiálogo, elemento fundamental ao processo terapêutico por ser parte essencial do autoconhecimento do indivíduo, sendo uma ferramenta para o aprendizado de como reconhecer-se e ser questionador de si mesmo, abarcando a experiência de novos modos de interagir consigo, suas emoções e percepções de si e das experiências vividas.

Quando a terapia não funciona?

A terapia para quem não quer fazê-la, não funciona. A honestidade do analisando é primordial ao tratamento psicanalítico. Tanto para com o analista quanto para si. Se o indivíduo está em terapia contra a vontade ou mente nas sessões, o processo terapêutico será inexistente.

Há indivíduos que, ao mentir, simular e deturpar relatos das suas situações e experiências de vida, poderão usar a terapia como forma de autoafirmação ou como meio e tentativa de buscar a piedade ou compadecimento do analista. Para esses casos, é necessário um analista não apenas experiente, mas competente e muito atento para que tal comportamento seja detectado, seja por meio da observação de atos falhos ou através da análise subjetiva do terapeuta.

Ainda, a terapia funciona de maneira efetiva e duradoura ou permanente quando é tratada a fonte do problema ou questão terapêutica, não quando usada como método paliativo se voltando apenas para seus sintomas.

Prazos De Tratamento

O analista não está ali para diagnosticar, mas para conduzir a melhora do analisando, suas emoções e sentimentos, o que é, de fato, um processo longo na construção da evolução de sua qualidade de vida.

Para Freud, todos os indivíduos são “neuróticos” em algum grau. Portanto, terapia é uma necessidade básica. Alguns indivíduos recorrerão a ela para resolver questões iminentes, outros farão dela um acompanhamento para a vida, sendo parte de seu processo de desenvolvimento pessoal.

Portanto, os prazos variam de acordo com o objetivo terapêutico. Não existe “alta”. Haverá a resolução das questões terapêuticas específicas ou até mesmo o momento de buscar outro olhar profissional para dar continuidade ao processo terapêutico. Caberá ao analista e analisando, em seu contexto específico dentro de sua individualidade e vínculo terapêutico, estabelecer a continuidade ou encerramento do tratamento psicanalítico.

Texto revisado. Originalmente escrito em 2020, durante a formação em Psicanálise Clínica.

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